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terça-feira, 10 de abril de 2012

A bela verdade da morte e ressurreição de Cristo

Antonio Pinho

E por mais que eu me esforce
Não sei bem se Te conheço
Tu enxergas o profundo
Eu insisto em ver a margem
Quando vês o coração
Eu vejo a imagem


É este o meu trecho preferido de uma das mais pelas canções de Pe. Fabio de Melo, Humano Demais. Eu me identifico muito com o sentimento expresso por esses versos. Pois, quando à noite, antes de dormir, me coloco a pensar em Deus, sempre descubro coisas novas e belas. Sigo assim o conselho de Santo Agostinho: “Não saias de ti, mas volta para dentro de ti mesmo, a Verdade habita no coração do homem” (A verdadeira religião, 39,72). De fato, a Sagrada Escritura nos diz que o Reino de Deus habita em nossos corações. São Paulo, na Carta aos Romanos, afirma que a verdade fora colocada pelo Criador em nossa alma. Quando, no silêncio, nos voltamos para nosso interior, descobrimos a face de Deus. “Se perscrutarmos nossa alma, segredos se nos mostram as delícias do pensamento” (Chateaubriand, O gênio do cristianismo). Mas, por mais que eu tente, como diz a música, não sei bem se conheço Jesus.

A realidade da encarnação de Cristo é tão grande e maravilhosa, que por mais que se escreva e se reflita sobre ela, não chegamos a uma compreensão plena desse mistério. É tal como a metáfora usada por São João, no final de seu Evangelho: livros poderiam cobrir todo o mundo, mesmo assim faltariam coisas a escrever sobre Cristo. São Paulo está certo quando fala que agora apenas conhecemos a Jesus como que em reflexo, e não sua verdadeira face. A Verdade plena nós conheceremos somente no dia em que sua glória for novamente manifestada, na sua volta, momento em que nós, seres imperfeitos e corruptíveis, seremos transformados: o véu divino da incorruptibilidade nos cobrirá. Deus nos tornará perfeitos. Somente então poderemos ter completo conhecimento do Verbo feito carne. Mesmo assim, na eternidade, continuaremos progredindo nesse conhecimento. Do infinito que Ele é somente vemos uma ínfima parte, na qual confiamos e temos fé.

Confesso minha ignorância. Ainda estou muito longe que compreender a grandiosidade de Deus: tornar-se homem e morrer pelo homem. Deus é um mistério. E como afirmava Chateaubriand, em seu livro acima citado, O gênio do cristianismo, “As coisas misteriosas são o que há mais belo, grandioso, e doce na existência.”

A Bíblia nos mostra como o homem se torna iníquo quando se distancia de Deus. O gesto de negar a Deus – como contam tantas histórias da Bíblia – gera autodestruição, morte. Mesmo o homem chegando ao extremo do mal, que é odiar Deus e vê-lo como fonte do mal, Deus mostra sua misericórdia e continua amando a humanidade, sua mais preciosa criação. Deus amou tanto que “nos deu mais uma chance”. Essa “última chance” é Jesus. Crer verdadeiramente nele significa ter a verdadeira vida. Ou seja, se em Cristo morremos, em Cristo renasceremos para a eternidade. Aqueles que dão seu sim a “chance” que Deus nos deu, verão maravilhas no mundo novo que Deus prepara aos que serão salvos, o Reino dos Céus. Dar um sim pra Deus significa crer que Jesus morreu na cruz e ressuscitou.

Fico pensando: “como pode Deus morrer?” Com essa pergunta, então, descubro que o Amor tudo faz. Cristo disse que não há maior amor do que morrer por um amigo. Se creio que Deus morreu numa cruz por mim, descubro que tenho o maior amigo de todos. Descubro que aquele que criou as mais distantes galáxias desse imenso universo se importa e ama um pobre, pequeno e ignorante pecador como eu, “pequena partícula da criação” (Santo Agostinho, Confissões). Descubro que Deus quis viver minha condição, viver minhas fraquezas. Eis a grandeza de Deus, tornar-se pequeno. É na pequenez de uma criança de Belém, filha de um humilde carpinteiro, que a maravilha do Amor de Deus se revela em sua totalidade, que mesmo ainda não compreendendo, creio.

Também penso no seguinte: o que teria ocorrido se no tempo de Jesus os homens o tivessem aceitado, colocando-o no trono de Davi? Bom, essa era uma possibilidade, os homens são livres para fazer o mal ou o bem. Se tivessem feito o bem, Jesus não teria morrido, e o Reino dos Céus já teria se concretizado há dois mil anos. Por outro lado, Deus conhece o coração humano, sabe que nele existe uma propensão ao mal. Deus sabia que os homens negariam mais uma vez a Verdade – como já tinha feito Adão, ou depois, a humanidade nos tempos de Noé –, mesmo assim, Deus, na sua imensa misericórdia, não desistiu de nós. Os homens tinham se desviado tanto da Verdade, que foi necessário que a Verdade se tornasse carne. Era necessário que a Verdade viesse até nós, senão jamais a conheceríamos, e sem Ela estaríamos fadados a morte. Mas Deus tem outros planos, que não são de morte, mas de “vida, e vida em abundância.” A realidade do mistério de Deus é que não é o homem que encontra a Verdade, mas é a Verdade que vai ao encontro do homem.

De fato, a Verdade se encarnou e veio até nós, para tirar-nos da miséria da morte. Como odiamos a Verdade, nós a matamos. Porém, o que é maravilhoso, diante do maior ato de ódio da história, a Verdade continuou nos amando, por isso ressuscitou. Deus provou que nada pode vencer a Verdade, nem a morte. Por isso, se cremos nesse Amor, na sua encarnação, morte e ressurreição, também venceremos. Teremos a maior vitória de todas: a vida eterna ao lado de Jesus.

Mesmo sabendo disso, “por mais que eu me esforce, não sei bem se Te conheço”. O mistério da Páscoa me faz ter fé no que não vejo, me faz procurá-lo mais. Quero a cada dia melhor conhecê-lo. Como só o conheço em parte, continuo buscando a Deus, até que um dia eu possa vê-lo face a face.