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segunda-feira, 23 de julho de 2012

Poema em prosa II – A voz do Mal

Antonio Pinho

Vi-me no deserto. Vento impetuoso levava-me de olhos vendados. Fome e frio senti. Por sorte a esperança pelo amanhã me consolava. No decerto, nas formas das dunas e no som majestoso do ar, vi a Beleza. Deus se revelava sutilmente nessas formas. Enquanto a paz preenchia minha alma, o Mal novamente se mostrou a mim. Tão sutil quanto o Bem ele era, porém não foi Amor que senti, mas ódio.
O Mal continuava buscando minha ruína, mesmo ali no deserto, na minha solidão. Eis que ouvi a voz do Mal: “Eu te odeio, e não me esqueci de ti. Quero tua destruição. Mas se queres ser meu amigo ainda, estende-me tua mão. Ajudar-te-ei a saíres desta terra de desolação. Dar-te-ei todo poder que quiseres. Dominarás sobre o mundo. Tua palavra será lei nas nações.” Estava ali tudo o que as nuvens de meus velhos sonhos outrora delinearam, mas agora eu via tudo claro. Nascera para dominar, ou ao menos com desejo de Poder. Bastava um Sim, e facilmente me seria dado o mundo de meus pensamentos. Contudo, uma força maior senti, que me fez entender o Bem e o poder da Verdade. Senti que ajudaria na transfiguração do cosmos, não dominando, mas servindo. Convicto falei: “Novamente não. Não quero poder, mas o Sentido Supremo da vida.” Diante da vontade da Verdade, o Mal afastou-se de mim. Só eu e o mundo, continuei a caminhar pelo calor do deserto. Caminhava livre, caminhava feliz.  

Leia:

Poema em prosa I - Diálogo com o Portador da Luz

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Qual o problema da educação brasileira? É a falta de salário ou a falta de vontade?

Antonio Pinho


No momento em que escrevo este texto, em Florianópolis, a UFSC, o Hospital Universitário a Eletrosul e os motoristas das empresas de transportadoras de valores estão em greve. Resultado: já não há mais dinheiro nos bancos, os alunos da UFSC estão prejudicados, como também os pacientes do Hospital Universitário. Os estudos ficam comprometidos, pois serviços básicos no campus estão parados. Quem quiser ir a um laboratório de informática ou a biblioteca estudar está impossibilitado. O comércio já começa a sentir os efeitos, pois com falta de dinheiro em circulação na cidade, o povo deixa de comprar. É uma simples relação de causa e efeito. As greves injustas afetam mais a população, e seus estragos são em grande parte maiores que hipotéticos benefícios a classe paralisada.      
Toda greve é motivada pela defesa de uma classe, e não pela defesa do bem-estar da população. Quando a greve é ganha pelos grevistas o que ocorre? Aumento de salários. Acontece que no Brasil o direito a greve praticamente só existe para funcionário público. Com a tradição grevista do funcionalismo público tupiniquim, a consequência é que os salários pagos pelos cofres públicos aos funcionários públicos superam em grandes proporções os pagos pela iniciativa privada. É justamente por esses altos salários que os concursos públicos têm atraído cada vez mais candidatos, que querem só é se encostar no Estado para ganhar mais, trabalhando menos, e sem risco de perder o emprego. Ou seja, temos aí a fórmula ideal da incompetência, da corrupção e da falta de produtividade.     
O problema não é em si o salário do funcionário público, mas o efeito negativo que causa na economia nacional. O governo do PT realizou inúmeros concursos e reajustou os salários do funcionalismo público de forma irresponsável, sem pensar no efeito negativo que isso vai ter a longo prazo, o que gerou um espantoso crescimento do Estado em detrimento da iniciativa privada. Quem está sofrendo com isso é justamente a iniciativa privada, que está tendo que arcar com umas das maiores cargas tributárias do mundo, que está batendo os 40% do PIB. Todos nós trabalhamos nada menos que 150 dias por ano só para o Estado, para pagar impostos, ou seja, para pagar os altos salários de funcionários públicos que ganham muito acima do que ganhariam trabalhando na iniciativa privada, e ainda trabalhando menos.  
Esse é um sistema que barra o crescimento da nação, e até gera pobreza. Quando mais o Estado cresce de forma irresponsável, torna-se mais pesada a carga de impostos sobre as empresas. Pagando mais impostos, as empresas dão a um Estado corrupto e ineficiente recursos financeiros que poderiam ser aplicados pela própria empresa em seu crescimento, adquirindo novas máquinas, pagando a formação de seus funcionários, aumentando sua estrutura física, aumentando produtividade... No fim das contas, quando as empresas pagam poucos impostos, e são pouco reguladas pelo Estado, o que ocorre é a geração de mais riquezas, pois são criados mais empregos qualificados. Isso é bom para o próprio Estado, porque se a iniciativa privada produz mais, consequentemente, vai pagar mais impostos. Com uma arrecadação maior, e baixa carga tributária, mais recursos podem ser aplicados na educação e no desenvolvimento tecnológico.
Com isso entramos no problema da educação. Seu mal é o mesmo mal de uma máquina estatal corrupta e pouco produtiva. Falta a educação um espírito mais alinhado aos valores do capitalismo saudável, ou seja, uma educação que pense na geração de resultados práticos, na livre concorrência que valorize a competência individual de escolas, professores e alunos, na busca constante pela qualidade do serviço prestado, etc. O problema é que os sindicatos de professores defendem causas que são “boas” aos professores e ruins aos alunos e a sociedade. Os sindicatos querem redução de carga horária e aumento de salários – uma lógica que é totalmente inversa a do capitalismo, no qual quem quer ganhar mais, tem que trabalhar mais. Não digo que os professores devam ser submetidos a cargas horárias excessivas, mas o bom senso tem que ser mantido. Quando o professor trabalha menos, o aluno também vai aprender menos. No Brasil os alunos ficam em média 4 horas na escola nos 5 dias úteis. Nos países desenvolvidos é comum o aluno ficar bem mais que isso na escola. Se o aluno fica mais tempo em sala de aula, aumenta a probabilidade dele aprender mais.
Outro problema é a falta de produtividade. Os alunos saem do ensino médio sem saber história do Brasil e história geral, matemática, inglês e espanhol, e com baixa proficiência em leitura e escrita em português. Como podemos querer que o Brasil se desenvolva social e economicamente sem que grande parte da população tenha esses conhecimentos míninos, essenciais para um mundo globalizado e altamente tecnológico? Quem não domina seu idioma, uma língua estrangeira e matemática não poderá ser um engenheiro. Quem não conhece a história de seu país não vai poder compreender a realidade atual com profundidade, o que lhe impossibilita ser um cidadão consciente na hora do voto.
A falta de qualidade na educação tem enormes efeitos maléficos em todos os setores da sociedade. Por outro lado, uma educação de excelência vai fazer toda a diferença: a economia se desenvolve, a nação prospera, os eleitores são mais conscientes de seu papel na história e na sociedade, a cultura progride e a democracia se fortalece.
O que contribui para a falta de produtividade na educação é que os professores gastam enorme tempo em sala de aula em discursos políticos, geralmente defendendo o comunismo/socialismo e as causas de seu sindicato, em vez de ensinar de forma criativa os conteúdos de sua disciplina. Enquanto estive no ensino médio, os professores chegaram a chamar um cubano para enaltecer a ditadura genocida de Fidel Castro. Esses mesmos professores faziam religiosamente uma greve por ano. Na maior delas fiquei mais de 40 dias úteis sem aula.
Todo esse tempo perdido, ao longo dos anos, acaba tempo um significativo peso na formação (ou falta dela) que os jovens levam para sua vida adulta. A falta de qualidade dos professores impede o acesso a muitos a educação superior. Para tentar “sanar” os danos de professores ineficientes, o Estado cria cotas raciais que só criam mais problemas. Porque as cotas raciais acabam criando um conflito racial – até uma segregação cultural – num país com histórica boa convivência entre diferentes etnias.                           
Os professores gastam tempo em discursos ideológicos muitas vezes porque não dominam nem os conteúdos de sua especialidade. Numa pesquisa recente se constatou que 90% dos professores do ensino fundamental acertaram menos de 60% das questões de uma prova avaliativa a que 12000 profissionais da educação foram submetidos. Ou seja, se os professores fossem alunos, 90% teriam reprovado de ano. (1) Como comentei em meu artigo anterior, sobre a greve na UFSC, o problema se inicia nas próprias universidades federais, que desde a ditadura têm se tornado verdadeiros feudos de comunistas, a propagar os estragos da revolução marxista por toda a “cultura” nacional. Formados no marxismo, e não na ciência, os professores vão para a sala de aula dar aula de marxismo cultural, e não de ciência. Esse é o centro da questão.
A solução da educação brasileira está no fim da estabilidade no emprego dos professores da escola pública. Também deve ser criado um sistema de avaliação como o da OAB para a concessão de diplomas de licenciatura. Devem ser criados rigorosos meios de avaliação periódica dos professores para averiguar o nível de seus conhecimentos. O desemenho dos alunos também deve ser avaliado. Isso instauraria na educação a meritocracia. Os professores que tivessem mais conhecimentos e melhor desempenho intelectual ganhariam mais, e teria benefícios para continuar seus estudos em nível de pós-graduação. Os que reprovassem deveriam ser encaminhados a cursos de aperfeiçoamento. Se seu desempenho não melhorasse com o tempo, deveria ser severamente punido. Pois quando o professor não é punido, os punidos são os alunos, que não entram para uma boa universidade, ficando assim impedidos de ascender socialmente.          
Uma profunda reestruturação da educação brasileira é necessária se queremos entrar para o grupo das nações desenvolvidas social, cultural e economicamente. Só um sistema educacional baseado na meritocracia nos tirará do estado de barbárie e esquizofrenia coletiva em que mergulha o Brasil atual.
Referência:
BORGES, Helena. Quando a conta fecha. Veja, edição 2275, 27 de junho de 2012, p. 126-127.

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