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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Pegassione

Fazia tempos que eu não via mais um capítulo de novela. Quebrei o jejum ontem, mas logo descobri que não tenho mais paciência para tal tipo de distração. A última novela que vi foi a A Favorita. Vi-a quase totalmente, só tendo perdido os primeiros capítulos. Tenho que admitir que seu autor foi de uma criatividade e inteligência sem comparação. Cada capítulo conseguia construir um castelo de mistérios, e nos instigava a ficar na frente da televisão no dia seguinte. Digo que o autor foi criativo por centrar a história não em romances – como de costume -, mas numa trama policial de corrupção na luta pelo poder/dinheiro. As histórias de conquistas e traições só serviam para agradar os “conservadores”, quer dizer, aqueles que querem apenas mais do mesmo.
A Favorita foi a última que vi, e creio que continuará sendo, por muito tempo. E sinceramente espero que continue sendo até o fim, porque daí não perderei mais tempo com essas distrações. Poderei procurar por outras mais prazerosas. Ontem acabei vendo um pequeno fragmento de um capítulo da última novela com gosto de pizza. A história se desenrolava em três planos. No primeiro havia uma personagem com seu amante mais novo. Ele a levava ao banheiro para fazer algo. Acho que não era para ter uma conversa entre amigos. Já no segundo plano um homem de meia idade levava sua jovem amante aos beijos por uma escada que dava num quarto. Creio que não preciso narrar o que ocorreu depois. Por último, a outra cena se passava num escritório, onde uma mulher casada assediava um homem que tentava evitá-la a todo custo. Não aguentei, e sai da frente da TV. Durante quase meia hora de horário nobre boa parte da sociedade brasileira assistia a senas de sexo ou traição. Crianças, velhos, pobres e ricos com as mesmas imagens diante dos olhos. Que horror! O mundo acabou e ainda estamos por aqui. Pode ser que tenhamos ouvidos fracos e não percebemos as trombetas do apocalipse tocando. Dias antes escutei no rádio uma notícia repugnante. Uma mãe abusava sexualmente de seu filho de seis anos. Se não me engano era essa sua idade. O pai da criança saia para trabalhar, ficando todo o dia fora. Enquanto isso, sua casa transformava-se em um circo de insanidades.
Um fato pode não ter aparente relação com outro. Que relação de causa e efeito poderia existir entre uma novela e um caso de abuso sexual contra menor? Toda. Vi que entre o estúdio em que se grava a novela e a sala da delegacia há uma continuidade perfeita. Novelas, revistas, filmes, seriados, internet, outdoor, etc... Estamos cercados por imagens e sons que nos instigam uma sensualidade demasiadamente desnecessária, mas superabundante. Essas imagens que levam muitos a creditarem que a vida se limita ao acasalamento.  Para que tudo isso? Realmente não sei. Mas o fato é que estamos ficando doentes. Alguns é que possuem sintomas mais visíveis e param na delegacia.         

Questão de Civismo

O patriotismo, no sentido moderno, surgiu juntamente com a concepção de estado capitalista burguês do século XIX. Quer dizer, o patriotismo nasceu junto com o conceito de país.

No Brasil, o patriotismo sempre foi incentivado, quer dizer, cultivado pelas forças armadas. Tanto que são elas as protagonistas dos desfiles de 7 de setembro, considerado o maior evento cívico nacional. O problema já está na função de tais entidades: a morte. Sim, a morte. Se existe exército, marinha e aeronáutica é para alguma coisa, ou seja, fazer guerra, provocar a morte. Os fardados afirmam que existem para a segurança nacional, para proteger o Brasil. Porém, não há nada tão falso quanto isto. Eles são úteis somente para dar golpes de estado e destruir países visinhos. Pois, se o Paraguai vive em difícil condição social devemos agradecer ao nosso zeloso exército, que matou 75% da população paraguaia.

Por isso, o exercito não tem direito de querer instalar patriotismo em nossas mentes.

Em suma, as forças armadas deveriam ser extintas! E também nos demais países. Tenho certeza de que a humanidade seria muito melhor sem o medo de guerras, sem o poder mantido pelo pavor e pela força.

Além disso, há algo muito importante a dizer sobre o tema. O próprio conceito de pátria é artificial e foi criado, como vimos, há relativamente pouco tempo. O território nacional surgiu como necessidade do capitalismo de se manter, garantindo um público consumidor mínimo para as mercadorias produzidas. Quer dizer, a noção de país foi uma invenção da burguesia para a manutenção do lucro. Contudo, isso não bastava, um estado como mercado assegurado era pouco. Para que o capital continuasse crescendo destruíram a África e a Ásia, subjugando-os ao máximo da exploração colonial.    

Foram a vontade dos reis, a força das guerras, os interesses pessoais, a loucura e a vaidade que criaram as pátrias e abriram os territórios. Se a história foi assim, não foi por vontade do povo.  As camadas miseráveis da população são sempre manipuladas. Nunca li um relato histórico onde constasse que um rei foi com o fuzil na mão, ao campo de batalha, para morrer pela sua pátria. Por isso inventaram o patriotismo, assim como inventaram o próprio conceito de pátria, para mover o povo à guerra.

Mas ainda existe esperança. Felizmente nosso povo perde o conceito de patriotismo. O brasileiro (falo do brasileiro néscio) só é patriota durante a copa do mundo de futebol.

Na miséria não há fronteira. Portanto, a humanidade é uma só pátria!   

São José, 22/09/2006

P.S.: Esta é uma crônica antiga, que agora publico. Não penso mais da mesma forma. Nessa época eu tinha umas tendências de esquerda. Ainda bem que esse tempo passou e eu mudei. Já são mais de 4 anos. Hoje é o Brasil que é de esquerda e coloca uma terrorista na cadeira de presidente. E eu, felizmente, estou na outra margem...