Entrevista com Antonio
Pinho, o conservador perseguido pela UFSC
Antonio
Pinho fez mestrado de Letras na UFSC. Criou um blog chamado UFSCON, ou UFSC
Conservadora. Acabou sendo perseguido pela reitoria da universidade por isso.
Expliquei melhor o caso aqui. Jantei com ele na noite de lançamento de EsquerdaCaviar. Pareceu-me alguém bem calmo, inofensivo. Não para a esquerda radical. Para
ela, Pinho é como Ivan, O Terrível. Segue a entrevista que ele concedeu ao
blog:
Como foi
que soube da intenção da UFSC de processá-lo e qual foi sua reação?
Fiquei
chocado na hora. Na verdade ainda estou. Acho que a ficha não caiu ainda do
quão sério é o que está se passando em minha vida. Isso é repressão à liberdade
de expressão. Eu li a Constituição. O que a universidade está fazendo comigo é
totalitário, é stalinismo. Vai contra o artigo 5 de nossa Carta Magna. Sei de
meus deveres e direitos. Porém, a reitoria e o setor jurídico da UFSC o
desconhecem ou fingem desconhecer…
Na
denúncia do aluno, que passou pelo crivo da reitoria, consta a acusação de
“preconceito” em sua página que usava o nome UFSC. A que ele se referia? Havia
algum indício de homofobia em seu site?
Nenhum.
Não há nada. Vasculhem o blog UFSCON, vasculhem meu blog pessoal
cibercronicas.blogspot.com. Eu desafio quem me acusa a mostrar se alguma fez
escrevi uma linha sequer incitando ódio aos homossexuais. Não encontrarão uma
só linha de ódio às “minorias”. Sou católico, e o catecismo da Igreja condena
isso. Os gays devem ser acolhidos como filhos de Deus, não acusados por sua
escolha individual ou excluídos. Eu defendo a liberdade individual, desde
quando essa liberdade não limite a liberdade do próximo. O problema é a
militância gay, e na UFSC há grupos bem radicais e ativos. Esses sim
representam um sério perigo a liberdade individual dos cristãos de viver sua fé
com bem entenderem, ou expressar suas opiniões. São totalitários como os comunistas.
Querem mudar as leis e se tiverem êxito, isso significará um golpe mortal as
bases sobre as quais a Constituição se sustenta: a liberdade individual e a
liberdade de expressão.
A
faculdade alega não desejar ter seu nome associado a nada que possa causar dado
à sua imagem, mas existem outras páginas que usam o UFSC, só que com viés de
esquerda. Até onde sabemos, nenhum deles recebeu notificação alguma. A reitoria
está sendo parcial? É perseguição ideológica?
Sim. Isso
é bem claro no conteúdo dos documentos do processo administrativo que sofro. A
reitoria está sendo parcial. Ela promove um julgamento parcial, pois usa dois
pesos e duas medidas. Há uma página chamada “UFSC à esquerda” e outras tantas.
Sejamos claros. A atual reitora é de um partido socialista. Na mente dela devo
ser um “fascista”, como eles gostam de nos xingar. A esquerda da UFSC deve
acreditar que somos alguma espécie de seita neonazista ou algo pior. Também
isso tudo não procede.
Como é
sua experiência na UFSC? Você diria que existe doutrinação esquerdista nas
aulas? Os conservadores sofrem algum tipo de pressão por parte dos professores
ou demais alunos?
Sim. Há
isso. Ou você pesquisa na linha de seu orientador, ou não tem orientador, na
grande maioria dos casos. No curso de letras da UFSC, pelo menos na época que
estudei, havia uma cadeira de “marxismo e literatura”. Acho que isso já diz
tudo. Mas não é só isso. Segundo soube, o professor mais renomado de literatura
da UFSC foi do partido comunista argentino na juventude. Suas aulas são puro
relativismo moral, escola de Frankfurt, Derrida, Foucault e Cia limitada. Há
professoras feministas, há os marxistas, os desconstrucionistas, mas nenhum
conservador. Os mais tradicionalistas são os professores de latim, com os quais
mais me identifiquei.
Recentemente,
a UFSC havia convidado o assassino Cesare Battisti para uma palestra. Você
participou de um protesto que teve até bandeira comunista queimada. Fale mais
disso e da reação dos colegas.
A reação
das pessoas comuns que estudam e/ou trabalham foi de apoio. Já a dos militantes
fanáticos foi de ódio. Vejam os primeiros comentários no youtube ao
vídeo. Esse terrorista inclusive foi convidado a UFSC pelo curso de Letras, o
mesmo no qual me formei. Fui aluno do organizador. Já o ouvi falar mal da
“direita” em sala de aula, e isso no curso de mestrado. Tenho certeza que a
manifestação deu resultado. Apareci no jornal da band do dia 6/11 dando uma
declaração sobre o fato. Para mim é praticamente certo que se não fosse
nossa manifestação isso tudo não teria ocorrido comigo. Ou seja, nós
incomodamos a esquerda. Pelo que eu sei, não houve até hoje uma manifestação de
caráter conservador na UFSC, mesmo porque não é do estilo de conservadores
fazerem isso. Porém a situação o exigia uma posição mais radical nossa. Não se
pode usar a máquina pública a serviço de um terrorista condenado na Itália. O
que o governo Brasileiro tem que fazer é deportá-lo para que ele compra sua
sentença lá. Tenho esperança de que, quando o PT não mais governar o Brasil,
isso ocorrerá.
Sua área
é letras, provavelmente uma das mais dominadas pela esquerda. Como foi chegar
ao mestrado mesmo com tanto domínio dos marxistas, sendo você um conservador?
Foi preciso esconder suas cores ideológicas em algum momento?
Eu não
entrei no curso de letras como conservador. Eu me declarava um comunista.
Estudei em escola pública, e me converti ao comunismo, se não me engano, na
sétima série, na aula de geografia, quando a professora apresentava os sistemas
socioeconômicos. O socialismo era o céu na terra, o capitalismo o reino da
exploração. Pensei, se o socialismo é bom, então quero isso. Com o tempo,
estudei, li muito, e vi que o comunismo é errado. Minha vida demonstra que ou o
comunismo é coisa de mentalidade infantil, ou é coisa de quem não estuda
seriamente. Comunismo é coisa de militante com sede de poder. Só isso. A
cultura é pretexto para implantar um sistema de poder totalitário.
Cheguei
ao mestrado porque eu já trabalhava no núcleo de pesquisa de meu futuro
orientador, Felicio W. Margotti, desde a terceira fase da graduação. Entre mim
e meu orientador passou a existir uma relação de profundo respeito e confiança.
Quando apresentei meu projeto de mestrado, numa linha de pesquisa mais
tradicional e abandonada na academia, eu tive total aprovação dele. Minha sorte
foi ter um orientador não ideológico. Passei na seleção em boa colocação,
escrevi uma dissertação de umas 350 páginas, e me tirei meu grau de Mestre.
Também não tive dificuldades por ter um bom currículo acadêmico, para alguém que
tinha só a graduação.
A
tendência acadêmica nas últimas décadas, especialmente em sua área, tem sido a
de negar qualquer possibilidade de conhecimento universal, objetivo, isento,
como se todo o cânone clássico não passasse de um instrumento de opressão da
elite branca ocidental. Os estudos das “minorias” tomam o lugar de Shakespeare,
como se fosse preciso rescrever a história com esse viés de vitimização. Qual a
sua visão sobre isso?
Você tem
toda a razão. Não se lêem os críticos clássicos, nem os brasileiros, ou que
escreveram no Brasil, como Otto Maria Carpeaux, que publicou a História
da literatura ocidental. Hoje no Brasil aposto que não há um único
professor universitário que tenha a capacidade de escrever um livro similar,
muitos deles com PhD no exterior. Isso ocorre porque eles abandonaram o estudo
sério da literatura, e a formaram em mero pretexto para divagações
pseudo-filosóficas, que nem nos departamentos de filosofia se considera algo de
valor. E na UFSC há muitas disciplinas de teoria literária. Para mim isso é
desnecessário, pois acabam sendo espaço no qual a desgraça ideológica ocorre. O
marxismo cultural ai corre solto. Todos os críticos lidos são marxistas. Por
exemplo, agora está entrando na moda ler Zizec, que é o grande nome do marxismo
mundial.
Quais são
seus planos agora? Pretende seguir na vida acadêmica e na própria UFSC?
Como as
coisas estão no Brasil, se eu for dar aula só no exterior. Nosso ambiente
acadêmico sufoca a criatividade e o pensamento livre. Recuso-me a dar aula na
UFSC. Não sou ingrato, fiz meu mestrado nela. Acontece que tudo ia bem comigo
lá só porque eu ainda não tinha meus blogs. Se eu tivesse começado a escrever
na graduação, duvido que teria entrado na pós-graduação. Ana Caroline Campagnolo,
amiga minha conservadora, faz mestrado em história e a perseguição ideológica
contra ela é terrível. Para você ter noção, a orientadora dela a humilhou em
sala de aula, diante de todos os colegas, porque essa minha amiga tem vídeo no
YouTube com críticas ao feminismo. Agora minha amiga corre o risco de ficar sem
orientadora, e duvido muito que a universidade a aceite no doutorado. Se eu
fosse dar aula em universidade federal duvido que eu trabalharia em paz. Não
vou parar de escrever o que penso, e nesse país quem ousa pensar é um
alienígena. Por ora, meu plano é abrir uma empresa de comunicação com outros
amigos. Também pretendo escrever um livro sobre a decadência do nível
intelectual nas universidades brasileiras. Depois de tudo o que me aconteceu
assunto não vai faltar.
Vai
solicitar que a universidade adote postura isonômica e exija a retirada das
demais páginas que usam seu nome na internet?
Se a UFSC
ordenar a retirada de todas as páginas, realmente ofensivas a instituição,
retiro a UFSC Conservadora, caso contrário não. E isso também vale a páginas de
esquerda. O blog UFSCON continuará ativo e conta já com vários colaboradores.
FONTE: http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/sem-categoria/entrevista-com-antonio-pinho-o-conservador-perseguido-pela-ufsc/