Páginas

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Aborto: cultura da morte

Porque o aborto é uma atitude terminantemente anti-ética?

A discussão sobre o aborto tem erradamente se desviado para a esfera religiosa, o que é um equívoco. Você pode ser agnóstico ou ateu e ser contrário ao aborto. Uma lógica muito simples demonstra que a prática do aborto é anti-ética e um atentado a vida. Vejamos a seguinte questão: alguém em seu estado mental perfeito deseja sua própria morte? Creio que não, pelo menos nunca conheci uma pessoa assim. Falo em “estado mental perfeito” porque se sabe por estatísticas que o índice se suicídio entre pessoas com depressão grave é relativamente alto. Mesmo os suicidas deprimidos não odeiam a vida, odeiam o sofrimento. Matar-se, na mente das pessoas deprimidas, é uma tentativa de escapar ao sofrimento, e não à vida. Se o suicida pudesse encontrar por si mesmo a saída de seu sofrimento para uma vida feliz certamente não se mataria.

Então, como ninguém normal deseja a morte, muito menos gostaria de ser assassinado, correto? Se você soubesse que há alguém agora mesmo tramando sua morte o que faria? Denunciaria a polícia a pessoa que planeja lhe tirar a vida, certo? Denunciaria pelo desejo de viver, que é inerente a condição humana. A morte é o maior sofrimento porque passamos, porque todos querem a vida e felicidade, e ninguém deseja a própria morte e infelicidade.

Posto isso, cabe uma nova pergunta: você gostaria que alguém tivesse tirado sua vida antes mesmo que sua mãe o tivesse dado à luz? Novamente a resposta lógica é não, pelo mesmo motivo da resposta anterior. Tirar a vida que quem não nasceu é aborto. Se o assassinato de pessoas adultas é crime – um atentado contra a vida – o aborto também o é. Não há nada de religioso nisso, é pura lógica. O desejo de viver é inerente a nós, por isso não iríamos gostar se nossa mãe nos abortasse, privando-nos de ser feliz, ter uma vida cheia de realizações, plena e produtiva. Como o aborto vai contra a vontade humana pela auto-conservação de sua própria vida, não é ético tirar a vida de quem não pode se defender - isso vale até para a guerra, um soldado não pode matar o inimigo rendido.

Tenho a certeza absoluta que todos aqueles que defendem o aborto não iriam gostar se suas mães os tivessem abortado. Então como podemos concordar com a morte do próximo? A cultura do aborto é uma cultura contrária a vida, ou melhor, é a expressão máxima de uma cultura que despreza o valor da vida. Muitos defendem que mulheres pobres, sem condição de dar uma vida digna a seus filhos, deveriam abortar, pois a pobreza é terreno fértil para a criação de criminosos. Isso não se justifica. Se uma mulher está grávida e sabe que não terá condições de sustentar seu filho pode dá-lo para a adoção. No Brasil há uma imensa fila de casais a espera de uma criança para adotar, e a adoção de bebês é ainda mais fácil. Certamente é melhor dar seu filho para a adoção – para que seja amado e bem criado – que matar uma pessoa.

Há um outro argumento científico que demonstra o absurdo que é o aborto. Está demonstrado que os índices de suicídios entre mulheres que abortaram é muito mais elevado (por volta de 7 vezes), em virtude dos dados psicológicos – a consciência de ter tirado uma vida e não ter como voltar atrás -, sem contar os elevados índices de depressão grave nesse grupo de mulheres.

A cultura da morte já existiu no passado, por exemplo, em Roma. Ela era uma sociedade que desrespeitava em grandes proporções o direito natural a vida humana. Construíam arenas em que milhares eram mortos nos grandes jogos oferecidos pelos imperadores; crucificavam os inimigos do estado ao longo das estradas para morrerem agonizando; abandonavam crianças nas ruas para morrerem a própria sorte; escravizavam os prisioneiros de guerra... Nessa sociedade da morte que era Roma antiga, o aborto era amplamente feito, como demonstra Paul Veyne (História da vida privada, volume I).

A crescente defesa do aborto é mais um sintoma da revolução cultural no sentido da volta à sociedade da morte romana. Voltamos ao paganismo, tornamo-nos neo-pagãos. Esse é um fenômeno cultural de clara decadência.

Aqueles que defendem a vida não necessitam ser religiosos. A religião tem implicações éticas, mas é possível ser ético sem envolver questões religiosas. Dessa forma, numa sociedade laica, o discurso contrário ao aborto só terá sucesso se for dissociado de questões teológicas. Pela ciência demonstra-se que a manutenção da vida é melhor que o aborto para a saúde da mãe. Cabe então a luta política que iniba a propagação dessa cultura contrária ao valor da vida humana.

Estranho fato, um paradoxo do irracionalismo atual: é crime matar um animal da fauna nativa, mas há quem creia que não é crime matar humanos. É essa a lógica do animal irracional que habita em nós, e se propaga a passos largos na atual e triste pós-modernidade. Infelizmente, esse "animal" cresce como nunca, e começa a dominar o homem racional que habita em tão poucos.