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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

A liberdade do feminismo

Antonio Pinho

O marxismo, como religião sem Deus, também tem – numa imitação satânica e invertida do cristianismo – seu decálogo. Num de seus mandamentos está escrito o seguinte:
Divida a população em grupos antagônicos, incitando-os a discussões sobre assuntos sociais mesmo que não relacionados com a causa comunista”. (1)
Que relação teria a luta pela libertação da mulher e a causa marxista da revolução mundial? Tem total relação. O marxismo como um verdadeiro vírus implantado no mundo das ideias, em especial destinado a destruir o Ocidente cristão, visa corroer todas as relações humanas, todas as estruturas sociais, em especial a família. Se o cristianismo fundou sua civilização no amor, o marxismo a corrói fundando uma sociedade baseada no ódio. Daí a importância em fragmentar a sociedade em grupos antagônicos, hostis entre si.
São vários os meios que o marxismo cultural tem se usado em sua tarefa de corrosão da sociedade. A guerra dá-se em múltiplas frentes. Feminismo, gayzismo, ideologias de gênero, movimentos indígenas e negros são formas de ir dividindo a sociedade em grupos antagônicos, bem como diz um dos mandamentos do decálogo marxista que citei aqui. É a velha tática de guerra de dividir para conquistar. Uma nação dividida torna-se fraca e logo se transforma em alvo fácil a conquistadores bárbaros além-fronteiras. O Império Romano dividiu-se em Ocidental e Oriental e depois viu-se varrido por hordes de tribos germânicas, sem capacidade para se defender.
Hoje o Ocidente encontra-se novamente dividido, não no plano geográfico, mas no plano da cultura, da ideologia, das ideias, etc. O inimigo não está fora. Ele não é um determinado povo de uma determinada região. Os inimigos, os novos bárbaros, estão em nosso meio, em nosso próprio pensamento condicionado em formas esquemáticas de raciocínio, em meia dúzia de frases feitas como se fossem a pura expressão da realidade. Uma dessas frases, por exemplo, é que a Idade Média foi uma época de escuridão, de falta de liberdade, de ignorância e de opressão por parte da religião. Ou ainda de que o cristianismo representa obscurantismo, repressão, decadência. Nada mais falso. O condicionamento de nosso pensamento por parte de uma cultura deformada pelo marxismo faz-nos associar Idade Média e o cristianismo à imagem de fogueiras queimando milhões de seres humanos culpados como hereges. Nada mais falso e fora da realidade dos fatos, pura falsificação da história, ou melhor, pura destruição da história do Ocidente. O alvo dessa ação destruidora da história é sempre um, o cristianismo, o elemento mais fundamental e característico do Ocidente. A Idade Média, tão demonizada pela mentalidade marxista/revolucionária, não produziu guerras mundiais com milhões de mortos. A Idade Média produziu ou preservou todas as bases sobre as quais se ergueu a liberdade, a prosperidade econômica, a arte, a filosofia, a ciência, o direito, em suma, a civilização. Os mortos no período da inquisição foram muito poucos, e as pessoas condenadas eram executadas pelo poder político, e nunca pela igreja. Não há como comparar a inquisição à ação destruidora das revoluções modernas, desde a francesa. Essas revoluções unindo-se numa ideologia claramente anticristã exterminaram milhares de vezes mais, de forma criminosa, genocida.
Nossa sociedade tem, então sido dividida em grupos antagônicos: héteros versus homossexuais, mulheres versus homens, brancos versus negros e índios, empregados versus patrões, etc. A coesão social dilui-se, e em seu lugar ergue-se o ódio entre esses grupos. Ou melhor, cria-se o ódio e a divisão onde não havia.
O feminismo, como mais uma frente de atuação da revolução, divide o mundo entre homens e mulheres, entre opressores e oprimidas, e conclama as oprimidas a odiarem os opressores. O elemento unificador entre homem e mulher, o amor, e substituído pelo ódio.
Um desses raciocínios condicionados pela propaganda esquerdista é que o Ocidente cristão oprimiu historicamente a mulher. Na verdade foi o cristianismo que deu verdadeira dignidade a mulher. Um exemplo é a indissolubilidade do matrimônio. Antes, no mundo pagão greco-romano, o homem poderia a qualquer hora, sem motivos, dispensar a mulher, a qual ficava só, sem os filhos e sem bens. Tinha apenas o direito de levar seu dote. Aquela que não tivesse sorte de casar novamente ficava numa situação muito delicada social e economicamente. O caráter sagrado e indissolúvel do casamento cristão deu mais segurança e dignidade à mulher. As cartas de São Paulo são claras sobre o respeito e o cuidado que o marido deve ter com sua esposa. No cristianismo a mulher não é aquela que só gera os filhos ao senhor do lar, ela tem igual dignidade que seu marido, pois são os dois “uma só carne e um só espírito”. Essa concepção não havia no paganismo, no qual sim a mulher ocupava uma posição bem inferior socialmente.
No mundo pagão greco-romano as mulheres não podiam ocupar cargos de comando, como reinar uma nação. No cristianismo isso mudou. Ao longo da história dos reinos cristãos são várias as mulheres que reinaram, como no Reino Unido. No Brasil, muito antes da dona Dilminha, a Princesa Isabel foi a primeira mulher a governar, durante as viagens de seu pai, Dom Pedro II. Somando todos os períodos em que ela governou, o total dá mais que tempo que um mandato presidencial. Então, ainda no século XIX a Princesa Isabel – governando um império oficialmente católico – foi a primeira mulher chefe de Estado no Brasil.     
Podemos ver, portanto, que no mundo cristão homem e mulher têm a mesma dignidade, mas são reconhecidamente diferentes – o que também é um fato biológico que não é possível de ser negado. E falar que são diferentes não significa que um sexo seja melhor que outro. Diferença não implica em superioridade ou inferioridade. O discurso feminista/esquerdista parece não conhecer a história do Ocidente cristão (na realidade quer é reescrever a história). Seu discurso nada mais é do que meia dúzia de frases feitas, pensamentos condicionados pela lavagem cerebral da mídia e da educação esquerdista. É um discurso cuja origem as próprias feministas desconhecem, ignorando – ao que parece – seus propósitos. O feminismo, como todo movimento revolucionário, tem uma dupla natureza, uma na aparência – que se mostra em seu discurso oficial – e outra oculta, que mostra a real natureza e revela-se quando a teoria vira prática. Em teoria o feminismo é um movimento pela libertação da mulher e pela melhoria de sua condição social. Esta é sua casca. Quando posto em prática mostra-se o inverso. O discurso pela libertação da mulher transfigura-se na real alienação da mulher, sua escravidão. É tal como o marxismo que na teoria é a libertação do proletariado, ao passo que na prática foi sua total escravidão. A libertação do proletariado às amarras que a burguesia o submetia, revelou-se a submissão a um senhor muito mais cruel: o Estado. Com a mulher dá-se o mesmo processo. A libertação da submissão da mulher ao homem entrega-a um novo senhor também muito mais severo: o mercado de trabalho. Se entes a mulher era livre entre escolher criar os filhos ou trabalhar fora (ou fazer os dois), agora, num cenário corroído por ideologias revolucionárias, resta apenas uma opção, o mercado de trabalho, que sendo o único caminho claramente não é mais uma opção, mas uma imposição. Com uma maior oferta de mão de obra, em virtude da entrada maciça das mulheres no mercado de trabalho, os salários caem. E com os salários cada vez menores dos maridos, aquilo que antes era apenas uma dentre outras opções, passa a ser a única escolha. A mulher é obrigada a trabalhar fora para complementar a renda familiar. Então há um círculo vicioso que submete a mulher cada vez mais ao mercado, e na origem está a atuação do feminismo a piorar a situação da mulher na sociedade. O trabalho feminino antes optativo, passa a ser compulsório. Há também na ausência da imposição econômica, a imposição ideológica, que faz a mulher erroneamente se sentir inferior por ser dona de casa. O feminismo faz a mulher crer que para ser livre e plena dever ter sua independência financeira. E a perda da estabilidade dos casamentos, com uma cada vez maior facilitação do divórcio, faz a mulher sentir-se obrigada a seguir inconscientemente a cartilha feminista, pois deverá ter como sobreviver após uma separação. Mas a atual fragilidade dos casamentos é já fruto de um enfraquecimento da influência social do cristianismo. As pessoas podem continuar nominalmente cristãs, mas isso não mais influencia decisivamente em seu comportamento. Também as leis tendem a se afastar de suas bases cristãs, sob as quais foram inspiradas. A perda do cristianismo como base do comportamento social  e da natureza das leis leva a uma conseqüência lógica que é a fragmentação da família e a uma deterioração da dignidade da mulher, que de companheira do homem e sustentáculo da família na criação dos filhos passa a objeto de satisfação sexual do homem. A feminista, que busca numa relação com o homem não a constituição de uma família mas apenas o prezar sexual, converte-se ao homem em objeto, coisa. Então o feminismo transfigura-se em seu contrário, o machismo. Se a relação entre os sexos era marcada pela diferença, passa agora a ser de fato desigual, estando a mulher num status inferior. Quando a mulher envelhece o homem troca-a por outra mais jovem. A luta feminista pela igualdade, assim, releva-se como a luta pela destruição da diferença e a instauração da verdadeira desigualdade. Num mundo antes mais estável dentro do casamento dá lugar a um mundo caótico e inseguro, principalmente para a mulher, cujos medos são divórcio, solidão, velhice.   
A segurança e a estabilidade, que antes a mulher buscava no casamento e na constituição de uma família, são substituídas pela busca da segurança e estabilidade financeira realizada no trabalho, o que nunca se realiza de fato, devido a falta de solidez das atuais relações de trabalho. É a redução marxista da natureza humana ao trabalho. No marxismo é o trabalho que cria o ser humano, então sem trabalho não há sentido na existência. O sentido último da vida de uma feminista é o trabalho, no qual não se pode encontrar esse sentido. O sentido da existência se realiza na família tradicional, que o feminismo tanto tem colaborado em fragilizar e destruir. O sentido da família cristã é o caminhar rumo à salvação da alma. A família marxista é um bando de células perdidas na coletividade cuja meta última e mais elevada é o trabalho, que o tempo reduzirá ao nada.
Concretiza-se a proposta que o Partido Comunista defendia desde o século XIX: trabalho compulsório a todos, homens e mulheres. Aqui fica mais uma vez evidente que o discurso pela liberdade é na realidade o discurso pela perda da liberdade. O direito pela escolha deixa de existir.
Quando a mulher é obrigada a trabalhar, a educação de seus filhos deixa de ocorrer no meio familiar e é entregue ao Estado. Submetendo os filhos ao Estado, a mãe fica também submetida ao Estado. A educação estatal, infiltrada de estruturas e doutrinas revolucionárias, não se destina a libertação da criança pelo conhecimento científico. Muito pelo contrário, a criança compulsoriamente entregue a educação oferecida pelo Estado é, na verdade, colocada nas mãos daqueles que estão interessados a destruir as tradições familiares – valores morais e religiosos. Ao Estado, infiltrado por todos os lados pelo marxismo, interessa educar as crianças de modo a inculcar nelas o modo revolucionário de ver o mundo, ou seja, de modo invertido. A educação estatal converteu-se em mais uma das frentes nas quais se opera a revolução. As crianças são doutrinadas a mentalidade marxista sem ter consciência do que está ocorrendo, e a doutrinação revela-se uma lavagem cerebral. A mãe, sem perceber, tem seu filho roubado espiritualmente pelo Estado.
A educação estatal e o feminismo acabam trabalhando juntos pela subversão da família, com o propósito de destruí-la. Isso ocorre porque os articuladores da revolução, ao longo do tempo, perceberam que a família é uma forte barreira a concretização da própria revolução. Isso ocorre porque é na família que os valores tradicionais são transmitidos. Para destruir esses valores é necessário destruir a família. Mas antes, cumpre afastar o máximo possível os filhos de seus pais, minimizando senão anulando a influência dos pais na educação dos filhos. Vemos que, no fim, o feminismo revela defender algo bem diferente do que a mulher. O feminismo defende o Estado, ou melhor, pela onipresença e onipotência do Estado. A vitória do feminismo é a derrota da família. E a derrota da família, nesse contexto, é a derrota da verdadeira liberdade, a liberdade do indivíduo. Em última análise, a vitória do feminismo é a derrota do feminino.     
Um mundo no qual não há a verdadeira liberdade, não há a diversidade que o discurso esquerdista tanto defende. A diversidade é aceita só se for dentro da visão de mundo esquerdista, todos os valores tradicionais devem ser excluídos desse mundo da diversidade. O próprio discurso feminista/revolucionário é cheio de contradições, enganos e mentiras. É um discurso fora da realidade. É um discurso que inverte a realidade, fazendo da submissão total ao Estado uma nova ideia de liberdade. Com isso, nosso sentido de escravidão passa a ser rotulado por liberdade.      
Por último, resta lembrar que o feminismo realiza-se como mais uma forma de ideologia anticristã. O grupo feminista Femen mostra-se claramente anticristão. No dia da renúncia do Papa Bento XVI, as ativistas da Femen logo apareceram na catedral de Notre Dame, e no peito nu de uma estava escrito: “Pope no more”. Sob o disfarce de defender a mulher, essas ativistas aproveitam toda a oportunidade para ofender os cristãos, especialmente a Igreja Católica e a Ortodoxa. Que relação pode haver entre a defesa da dignidade da mulher e profanar missas ou cortar cruzes? Ficar seminua em praça pública, com os seios a mostra, com o corpo rabiscado de blasfêmias, gritando raivosamente, e ter depois essas imagens estampadas nas capas dos jornais. É assim que a Femen age. Talvez poucas formas de destruir a dignidade da mulher sejam mais eficazes. É tal como a famosa “marcha das vadias”, promovida também por feministas, que se espalha por vários lugares do mundo. Agora defender a mulher é chamá-las de vadias enquanto se sai em marcha pela cidade. É patente a alienação dessas ativistas da Femen e da marcha das vadias em relação à realidade, porque fazendo algo extremamente degradante pensam estar realizando o mais elevado ato de altruísmo para as mulheres. Como é possível estar assim diante da realidade, fazer parte dela, e não enxergá-la, e ainda invertê-la? Não seriam casos como esses – Femen, marcha das vadias – novas formas de esquizofrenia, agora manifestadas não num ou noutro indivíduo, mas coletivamente?
No momento em que o marxismo parece ter desaparecido, após a queda do muro de Berlim, ele toma novos disfarces, assumindo outros nomes, como ideologia de gênero, feminismo, direito dos gays, ambientalismo, etc. Hoje a maioria acha que o comunismo é coisa do passado. É claro, pois o comunismo hoje é como o ar. Sendo invisível, está por toda a parte, e é por isso mesmo que ninguém o vê.     

Referência:
(1) Leo Villaverde. A Natureza Mística do Marxismo. Pág. 233.