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terça-feira, 19 de abril de 2011

Entrevista com Pe. Marcelo Rossi



“O sofrimento me fortaleceu.”
Pe. Marcelo Rossi

Leiam a revista Veja desta semana, edição 2213, porque saiu uma excelente entrevista com o Pe. Marcelo Rossi, o sacerdote católico mais conhecido do Brasil. Para ser muito sincero, fiquei emocionado com seu testemunho de vida, do que passou de 2007 para cá. Leiam o texto, pois nos mostra a verdadeira face de um sacerdote que vive tocado pelo poder do Espírito Santo: um homem que leva Jesus às multidões, mas que na sua solidão também sofre dores terríveis.

Transcrevo aqui uma parte da entrevista, mas recomendo que a leiam por completo. Aprendi muito ao lê-la, principalmente pelo fato dela nos ensinar que Deus não é a causa do sofrimento – como Deus poderia fazer sofrer um padre como o Pe. Marcelo? –, mas Ele nos dá força para superar qualquer sofrimento. E mais, Deus nos faz mais fortes e sábios após nos tirar da dor que os azares da vida nos provocam.

[...] No início de 2007, passei por um tremendo baque durante a visita de Bento XVI ao Brasil. Eu tinha um sonho na vida: cantar para o papa na minha terra. Nunca escondi isso de ninguém. Mas me colocaram para fazer um espetáculo às 5h40 da manhã, no dia da cerimônia da canonização de Frei Galvão, no Campo de Marte, em São Paulo. Ou seja, em um horário em que não havia quase ninguém – muito menos o papa. Fui vítima de boicote. E isso não aconteceu só comigo. Com o padre Jonas Abib também aconteceu a mesma coisa.

Que o boicotou?
Integrantes da arquidiocese de São Paulo. Alguns organizadores da visita do para ao Brasil. Eles capricharam na humilhação. Além de nos colocarem para cantar de madrugada, eu e o padre Jonas fomos barrados. Na entrada, fomos informados por um agente da Polícia Federal de que, com o nosso tipo de crachá, não teríamos acesso ao palco, mas apenas à plateia, apesar de escalados para fazer uma apresentação. Ficamos lá, esperando num frio danado, de madrugada, com a garganta doendo, até sermos liberados. Mas, durante todo o tempo, agi humildemente. Depois de me liberar, o agente que nos barrou ainda pediu para tirar uma foto minha para mandar para a mãe. Se eu fosse arrogante, faria um escândalo. Um amigo me disse que eu não deveria nem ter me apresentado. Um padre, contudo, tem de agir com humildade. Posei para a foto do policial, cantei minhas duas músicas e tudo bem. Mas ser impedido de me aproximar do papa, de pedir sua benção, me magoou profundamente. Faço tanto pela Igreja e fui jogado de lado.

[...]
O senhor chegou a ter depressão por causa desses episódios?
Não sei se posso chamar de depressão. Mas, em 2010, passei por um período de tristeza profunda. Hoje, percebo que o gatilho para esse estado foi o fato de ter sido impedido de ver o papa em 2007. No dia 29 de abril do ano passado, enquanto corria na esteira ergométrica, perdi o passo e me estatelei no chão. Foi feio: distendi três tendões e tive uma fissura em um osso do pé esquerdo. No momento da queda, o boicote veio à minha mente. Três dias antes, eu havia sido avisado de que em outubro, receberia o Vam Tuân (um prêmio por sua atuação forma moderna e evangelização) das mãos do papa. Fiquei apavorado com a possibilidade de ser impedido de ver o papa mais uma vez. Nos catorze primeiros dias, não podia colocar o pé no chão. Passei dois meses em uma cadeira de rodas. Só tomava banho com lencinhos umedecidos. Imagine isso para uma pessoa como eu, ansiosa e agitadíssima. Era a morte! Acordava no meio da noite de tanta dor. Tomei uma batelada de analgésicos e anti-inflamatórios. Durante um mês, só conseguia dormir com benzodiazepínico. Engordei 14 quilos. Ia à missa chorando de dor. Não dividi minha angústia com ninguém, além do meu bispo. Nem para minha mãe contei como estava mal. Sou um padre, e minha missão é ouvir. Não é falar de mim.

O senhor se sentiu abandonado por Deus?
Vou tentar lhe responder com um trecho de uma oração, que está no livro Ágape, fruto dos meus pensamentos naqueles momentos. “Senhor, tenho medo da dor. Senhor, eu já chorei, já sofri e continuo triste. Que meus dias possam ser iluminados pela alegria. Que a tristeza não fique por muito tempo. Nas perdas, que eu ganhe aprendendo.” Senti-me sozinho e desamparado por Deus. Senti-me como Cristo no Horto das Oliveiras, quando ele se achou abandonado e pediu a Deus para afastar de si o cálice de sangue.

Nessa passagem do Evangelho , Jesus sofre ao antever a via-crúcis...
A meu ver, esse foi o momento de dor mais profunda de Jesus. Como Jesus, que aceitou o desígnio de Deus, eu também aceitei. Jamais pensei em abandonar o sacerdócio. Ao contrário, o sofrimento me fortaleceu. Minha dor se transformou no livro. Ágape foi minha redenção. Comecei a me recuperar no momento em que comecei a escrever. Eu transcrevia trechos do Evangelho e, depois, os interpretava. Em Ágape, não trato diretamente do meu sofrimento. Mas, em diversos momentos, falo de dor e recuperação. Passar por tudo isso me aproximou ainda mais dos fiéis.
[...]
(Fonte: Revista Veja, 20 de abril, edição 2213, página 22)
Longe de eu querer me comparar ao Pe. Marcelo, mas posso dizer que me identifico muito com o que está escrito acima. O Pe. Marcelo faz mais à Igreja do que dezenas de padres e bispos juntos, mesmo assim é perseguido pelos que estão dentro da própria Igreja. Já tive a oportunidade de falar isso a amigos meus mais próximos, que o grande inimigo do catolicismo não está fora dele, nas seitas ou nas sociedades secretas que conspiram contra a Igreja, mas está dentro da própria Igreja. Fico triste ao saber que há muito joio dentro da santa Igreja fundada pelas mãos do próprio Cristo, cujo primeiro papa foi São Pedro.

Este ano passei por um triste episódio que me fez sofrer na carne o que sentiu o Pe. Marcelo. Agora completa aproximadamente uns 6 meses que estou na Renovação Carismática, mas mesmo em pouco tempo muitas maravilhas aconteceram em minha vida. Para citar só um exemplo, em agosto deste ano terei a oportunidade de ver o papa Bento XVI em Madrid, durante a Jornada Mundial da Juventude, evento que reunirá a juventude católica de todo o mundo. Também terei a oportunidade de ir ao Vaticano. E isso em apenas 1 ano de Renovação Carismática! Mas o melhor de tudo que vivo é a grande transformação que sinto em mim, essa vontade de trabalhar pela Igreja, seja em que for. Tenho agora uma garra especial, que não tinha antes, para lutar pelo que quero. Agora sempre quero mais em Cristo, e sei que ele quer que cresçamos sempre mais. Participando da Renovação Carismática conheci o que é a verdadeira felicidade de que tanto li nos livros de Santo Agostinho, que eu conhecia na teoria e nunca tinha vivido de fato. Quando conheci essa felicidade, vi o lado redentor da religião: só ela eleva o homem a sua verdadeira condição, que é a do ser que nasce para ser feliz. E essa felicidade que não tem fim só podemos encontrar se estivermos unidos a Deus.

Infelizmente, nesses 6 meses, conheci também o lado obscuro da Igreja, ou melhor, daqueles que estão na Igreja, mas que nada fazem para o seu crescimento, muito pelo contrário, por seu egoísmo e ignorância só fazem ações destrutivas, que não evangelizam nem edificam. Na minha primeira grande mobilização pela Igreja sofri perseguições dentro dela, que nunca tinha visto antes em minha vida. Vi gestos de nenhuma sabedoria por parte daqueles que deveriam dar o exemplo. Vi como a barreira para que a Igreja cumpra a ordem de Cristo, de evangelizar o mundo, é o joio que está no interior do trigo, e não a selva por desbravar ao lado.

Vou falar a verdade, cheguei a desencantar (mas não desistir). Fiquei uns dias abatido com o modo como fui tratado por certas figuras da Igreja. Se não estivesse convicto com o que quero, e do que Deus quer para mim, teria desistido. Teria partido para ações não sábias. A nova força que Deus tinha me dado poderia ter sido usada para destruir aqueles que me perseguiram. Mas não, pois vi que muito melhor era agir com sabedoria (e muita paciência), que é dom de Deus. Vi manifestações de ignorância que nunca tinha visto antes. E isso me chocou muito, por ser dentro de uma instituição religiosa. Mas não culpo a Igreja, pois ela é santa e de Jesus. Culpo o joio que está lá, e que felizmente não a domina. Mesmo abatido com minha decepção, com o que vivi, Deus me deu nova força e vários planos. Não sei como, mas alguns dias depois, eu estava como no início, ou seja, cheio de vontade de trabalhar por Cristo. Sei que isso não veio de mim: de minha decepção Deus me deu mais força ainda para lutar pelo seu reino, e minha mente se encheu de planos para a comunidade em que vivo. Já os estou colocando em ação, e agora tudo caminha na paz de Jesus. Sei que ele me fez conhecer a verdadeira felicidade, e fez isso para me dar uma motivação sem fim para que eu, acima de tudo, evangelize. Sei que muito me espera. Sei que essa felicidade crescerá em mim. Sei que também sofrerei, pois no caminho de Cristo também há a cruz, os espinhos. Sei que Deus não me abandonará. Sei que Deus espera pelas minhas iniciativas, pela minha ação. Deus é assim: ele confia em nós para que façamos, com nossas ações, a concretização de Sua obra. Deus também tem muitos planos para você. E você, o que dirá a Deus: sim ou não? A escolha é sua, somente sua.

2 comentários:

  1. Belas Palavras Maninho!
    Uma iniciativa um tanto grande... Gostei da atitude!
    Todos nós sabemos que não há mar de Rosas na Pregação do Evangelho! E se formos a fundo Nisso sabemos que o próprio Cristo foi impedido muitas vezes em seu Ministerio ele mesmo nos disse:"Vós na verdade chorareis!" ou então: se Chamaram o Pai de Familia de Belzebul qto mais aos Filhos" ou ainda... Há o trigo e o joio(...) "deixai-os crescer juntos pois no final da colheita colhe primeiro o joio ata-o e joga no fogo qto ao trigo ira ao celeiro"
    Não há Evangelho sem Dor... Pois nosso evangelho é o Evangelho do Amor e como ouvimos na pregação de O senhorio de Jesus "não há amor sem dor"

    Fica na Paz!

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  2. Gloria a Deus!

    bela entrevista a do padre Marcelo!
    Otimo post Irmão!

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