Impressiona a guerra que estourou no Rio de Janeiro nos últimos dias? Não. Algo já anunciado não pode nos assustar. Explico.
Quando é a primeira vez que matam alguém em nosso bairro ficamos apavorados. Na segunda vez, assustados. Na terceira, impressionados. Na quarta, o fato vira tema de conversa fiada em casa: “Oh Mãe! Mataram um cara na esquina.” E ela responde: “Isso não é novidade.” Depois ficamos totalmente anestesiados diante da violência. Pode ser cruel, triste, mas é a verdade. No fundo, a própria televisão, com os “Datenas” da vida, há tempos nos aplicou um eficiente anestésico de última geração. O cadáver do jovem morto na rua de nosso bairro não nos toca mais. Pode ser que cause curiosidade, que alguns se amontoem ao seu redor para “contemplar” a cena, porém não mais causa choque, como deveria causar numa sociedade saudável. O pior é que em cidades violentas, como no Rio, nem isso ocorre: as pessoas passam totalmente indiferentes diante de uma cena de assassinato, como se ali estivesse um cão morto e não um semelhante seu.
O fato é que o aumento da violência na vida cotidiana gera sua banalização. A repetição constante de atos anormais ao nosso redor torna a loucura igual à sanidade, e a moral à amoralidade. É uma total reversão de valores. O povo do Rio se acostumou com homens andando armados diante de suas casas, com tiroteios, com corpos pelo chão, com o comércio de drogas, etc... Quando o nível da anormalidade sobe um pouco, como nas últimas semanas, nos assustamos, mas logo as novas gerações que nascem hoje acharão isso normal, infelizmente.
Digo também que a guerra civil que estourou no complexo do Alemão no Rio, entre os traficantes e a polícia – esta escoltada até pelo exército –, vai se repetir no futuro, cedo ou tarde, no Rio e em outras cidades à medida que elas forem crescendo. Por isso não me impressiono. Vai se repetir porque não estão atacando a causa do problema. Não adianta enviar o polícia e as forças armadas às favelas. A rebelião dos bandidos que vimos tomar a cidade é só a ponta do iceberg. E se fatos como esses acontecem (a queima de carros e ônibus, ataque a quartéis, tiroteios, etc), é porque o problema social instalado já é muito grave. Não é o caminho fazer o que estão fazendo ao matar e prender os traficantes. Depois desses outros marginais virão se o sistema não for alterado.
Mas qual seria a causa do inferno instalado no Rio de Janeiro e nas outras grandes cidades? Primeiro, a origem não se encontra onde a polícia está atuando. Não é nos morros cariocas que a polícia deveria estar atuando em primeiro lugar. Não é aí a causa. Não são os trabalhadores honestos das favelas que alimentam os traficantes, mas a juventude rica de Ipanema, de Copacabana, do Leblon... Uma juventude criada com acesso a todas as mordomias, às melhores escolas e às melhores faculdades. Porém faltou-lhes o essencial: a família, a verdadeira educação, a religião e com está a moral. Essa crise que assistimos eclodir em todos os setores da sociedade trata-se, antes de tudo, de uma crise moral. Jovens, cuja vida se limitada à fruição de toda sorte de prazeres, perdem o próprio sentido da vida. Uma existência desencantada acaba encontrando saída onde não há saída: nas drogas, as quais dão um prazer momentâneo em troca inúmeros sofrimentos, tanto para si quanto para a sociedade.
Sem uma crença maior, sem a noção do que é moral, sem valores, sem respeito ao próximo e ao seu corpo, sem uma família estruturada que se desfaz em divórcios e falta de amor, nossos jovens ficam literalmente sem base. Sem essa sólida base, que dá a religião e a família, todo o edifício social começa a desmoronar em violência por todos os lados (em casa, na escola, nas ruas) e corrupção.
O fim dá história já conhecemos: é a guerra civil do tráfico.
Oi Antônio. Concordo com suas ideias. Creio que a violência está sim banalizada, em grande medida (penso eu) devido aos programas transmitidos pela maior parte dos canais televisivos. Recuperar uma favela e prender traficantes é escancarar a incompetência governamental e, principalmente, a incompetência da rede de educação do país, entre outras tantas coisas...
ResponderExcluirParabéns pelo blog.
Olá Sabatha, muito obrigado pelo comentário. Espero te ver mais vezes por aqui.
ResponderExcluirUm abraço