Antonio Pinho
Pergunto-me como deve ser a postura do conservador diante do atual estado de coisas? O que é ser conservador hoje, principalmente num contexto periférico como o latino-americano? Ou ainda, o que conservar?
Temos que ter como pressuposto que o outro lado – doutrinas coletivistas, portanto, socialistas – é por essência de natureza maligna e destrutiva. A oposição que o conservador faz é pela manutenção da civilização, dos valores legados pela história, e não pela aplicação de teorias sociais artificiais planejadas por uma elite que se entende por iluminada. Ele não pode crer que o pensamento socialista é igualmente válido como o seu, como se fossem visões a partir diferentes ângulos de uma mesma realidade, que no fim se complementam. Esse pensamento é falso. O conservador tem que ter a consciência que o socialismo é baseado em fundamentos totalmente falsos, maus por natureza, que quando implementados na sociedade causam somente totalitarismos, destruição, barbárie, guerras... As consequências destrutivas do socialismo não são provocadas por desvios daqueles que aplicam o socialismo, que o teriam corrompido. Isso também é falso. O socialismo aplicado socialmente é, por norma, destrutivo. E isso não foi algo acidental por aqueles que o idealizaram no século XIX. O socialismo foi criado justamente para causar destruição e caos. Isso ocorre porque para a criação ex nihilo de um novo mundo utópico jamais visto, o velho mundo deve ser destruído. Portanto, o ato destrutivo, iconoclástico, é algo intrínseco ao socialismo, porque o desejo de remodelar o mundo e o homem está baseado numa visão de mundo e de homem que são falsas. Ora, é totalmente lógico que tudo que tem fundamentos falsos também será falso, e sua natural tendência é desabar com o tempo. O problema é que no dia em que o edifício do socialismo desabar ele já tenha abrigado boa parte do mundo em seus domínios, então, se isso ocorrer, o mundo desabará junto. Por isso, na mente do conservador deve haver a consciência que sua luta é contra uma espécie de nova horda de invasores bárbaros, que se infiltraram nos territórios da civilização, não para usufruir de suas conquistas, mas para aniquilá-las.
Essa infiltração é lenta e progressiva, e da forma como é feita atualmente quase indolor e imperceptível. Hoje a mescla e confusão entre escombros provocados pela ação revolucionária e as obras herdadas pela história são tamanhas, que o conservador deve primeiramente saber identificar o inimigo, que cada vez está mais camuflado, quase invisível. O conservador deve se chocar diante de uma realidade revolucionada, e não se conformar. Porque do choque partirá o impulso para a ação. E a primeira ação é a auto-educação: despertar sua consciência para a verdade, saber como de fato se ordenam os poderes no mundo, e qual a real dinâmica da história. O conservador é, assim, aquele que quer conservar primeiro sua própria consciência e a integridade de sua alma. Ele deve buscar identificar quem é o inimigo, para não ser enganado e, ao fim, levado pelas ondas do mar de mentiras.
As estruturas da cultura e da sociedade estão tão modificadas pela atuação revolucionária do socialismo nos campos da cultura, educação e política – como a total inversão de valores morais que o Ocidente vive desde a segunda metade do século XX – que ser conservador hoje é quase como ser um revolucionário: diante de uma realidade degradada, ele vê com urgência uma ação consciente para sua modificação. Se o revolucionário remodela a sociedade para sua destruição, o conservador hoje deve “reremodelá-la” para sua reconstrução. O revolucionário deixa em seu rastro pilhas de escombros, o conservador deve a partir dos escombros empreender a reconstrução. O elemento inovador de nosso contexto histórico atual é que, numa sociedade cujas estruturas sofrem de um alto nível de modificação pela ação revolucionária, o conservador deixa de ser conservador e converte-se num revolucionário. Sua postura diante da história é, contudo, inversa a do revolucionário socialista. O socialista luta por um futuro que nunca chega e por uma utopia social que jamais existiu. O conservador revolucionário luta, por sua vez, ancorado por um passado e por uma sociedade, que nasceu espontaneamente pela experiência dos séculos, e não dos sonhos lunáticos da mente de algum filósofo de intenções duvidosas.
Isso não significa que o conservador sonha com a volta de um glorioso passado que foi destruído. Mas ele procura um meio de, a partir de sua realidade corroída, agir de acordo com a verdade – isto é de acordo com a natureza humana –, pois sabe que o socialista atua com base em mentiras, puras inversões da realidade. O conservador procura a verdade sobre o mundo, a sociedade e o homem. E se suas ações forem guiadas por essa verdade, os produtos de suas ações serão naturalmente verdadeiros, ou seja, de acordo com a natureza, ou ainda, de acordo com a vontade do Ser que nos criou.