Antonio Pinho
Vi-me no deserto. Vento impetuoso levava-me de olhos vendados. Fome e frio senti. Por sorte a esperança pelo amanhã me consolava. No decerto, nas formas das dunas e no som majestoso do ar, vi a Beleza. Deus se revelava sutilmente nessas formas. Enquanto a paz preenchia minha alma, o Mal novamente se mostrou a mim. Tão sutil quanto o Bem ele era, porém não foi Amor que senti, mas ódio.
O Mal continuava buscando minha ruína, mesmo ali no deserto, na minha solidão. Eis que ouvi a voz do Mal: “Eu te odeio, e não me esqueci de ti. Quero tua destruição. Mas se queres ser meu amigo ainda, estende-me tua mão. Ajudar-te-ei a saíres desta terra de desolação. Dar-te-ei todo poder que quiseres. Dominarás sobre o mundo. Tua palavra será lei nas nações.” Estava ali tudo o que as nuvens de meus velhos sonhos outrora delinearam, mas agora eu via tudo claro. Nascera para dominar, ou ao menos com desejo de Poder. Bastava um Sim, e facilmente me seria dado o mundo de meus pensamentos. Contudo, uma força maior senti, que me fez entender o Bem e o poder da Verdade. Senti que ajudaria na transfiguração do cosmos, não dominando, mas servindo. Convicto falei: “Novamente não. Não quero poder, mas o Sentido Supremo da vida.” Diante da vontade da Verdade, o Mal afastou-se de mim. Só eu e o mundo, continuei a caminhar pelo calor do deserto. Caminhava livre, caminhava feliz.
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Poema em prosa I - Diálogo com o Portador da Luz
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